A beleza da fé

Pietà - Michelangelo (1499)
Num momento de culto religioso, observando as pessoas, me deparei com algo extraordinário. Me deparei com algo tão belo e tão precioso ao mesmo tempo: o sentimento de fé ou a demonstração de fé que cada um externa diante de Deus, ou do divino, ou da deidade a que se acredita.
A fé em si é algo que tem de ser resguardado, protegido, pois se torna uma das mais antigas práticas humanas e mais belos sentimentos, ou atitudes, desempenhados pelo ser humano.
Ali não há distinção naquele momento. Seja num culto evangélico, seja no momento da oração do Siddur judaico, seja na oração de um muçulmano, seja numa demonstração de fé de um devoto ao seu santo, não importa, o ato de fé, de crer, de acreditar, de expor sua crença, sua fé, e além de tudo, de demonstrar em público, ou no secreto, não importa, essa fé é algo simplesmente de se admirar, de se notar, de se pensar.
Todos são nivelados há um só patamar: pessoas que acreditam em algo e demonstram isso de forma espontânea e sincera. É fato que há os que nem sequer sabem, quando adentram à um lugar sagrado, o que é que estão fazendo ali, mas àqueles que sabem, aquele momento torna-se único, especial, peculiar, precioso.
Naquele momento todos são nivelados a um só, à uma unidade, à um sentimento ímpar, sem igual, desde o juiz ao pedreiro, do culto ao analfabeto, do presidente ao político, do vereador ao pastor, todos são um em um. São um no sentido de semelhantes em um no sentido de um único propósito e objetivo: o de explorar ao máximo aquela experiência religiosa naquele dado momento com intuitos diversos, independentemente qual seja, mas o de buscar o favor daquele à que se adora ou cultua, como se queira chamar.
De fato, fiquei estupefato com tudo aquilo que vi. Perplexidade. Talvez essa seja a palavra que melhor exprime o sentimento vivido.
Vivemos num mundo pós-moderno, tão veloz, tão gigante, mas ao mesmo tempo tão insignificante. De descobertas descomunais com paralelos incomparáveis. Avanços tanto na área científica quanto na área tecnológica. Distâncias foram encurtadas. Acessos restritos foram disponibilizados. Porém, vivemos em uma época de vazios. Vazio existencial, vazios de sentidos, propósitos, aonde índices de suicídio e depressão crescem de forma assustadora. O que explica tudo isso? Se temos tudo e nada ao mesmo tempo?
Com o passar do tempo tem-se visto um aumento crescente, constante e contínuo, das pessoas pela religião. Pelo religare, pela busca por um sentido. A busca por um significado. Há sinônimos, mas não existe nenhum sinônimo que substitua a dor, em muita das vezes, abismal que se perfaz na alma ou na mente humana. Como explicar esse fenômeno?
Recentemente uma publicação do JAMA (Journal of American Medical Association) Psychiatry, um jornal de psiquiatria norte americano, publicado mensalmente, trouxe os resultados de uma pesquisa que consistiu basicamente em explorar resultados benéficos da oração, ou da espiritualidade, na recuperação de pacientes. A pesquisa trouxe dados curiosos em que pessoas até mesmo com altos índices de casos de depressão na família tiveram suas vidas blindadas ou até mesmo melhoradas pela prática da fé. Comprovado cientificamente tais benefícios, a pesquisa concluiu que com a prática religiosa (vale ressaltar aqui que não se trata de uma prática de uma "religião" em específico, mas sim de espiritualidade) o córtex cerebral teve um aumento na sua espessura contribuindo para a "imunidade" a doenças mentais.
Uau. Que demais! Que descoberta. Sabe, numa época em que o tempo passa tão depressa, tudo está tão imediato, essa pesquisa surge como uma explosão em nosso tempo. Digo explosão por que ninguém quer ouvir falar de religião. Na verdade, faz-se necessário traçarmos as diferenças entre religião e espiritualidade. A primeira tende a ser litúrgica, dogmática, engessada, sem vida, enquanto que a segunda tende a ser vívida, experimentada, auferível, sentida, e seus benefícios podem ser explicados.
Em nome "da religião" fez-se atrocidades inegáveis que a História se entristece até hoje ao nos contar. Uma página negra nos registros da humanidade, infelizmente. Porém a fé quando vivida de forma sincera nos traz uma compreensão de que podemos ser bons, de que há bondade, amor, dentre outras nobres virtudes inerentes ao homem possíveis de serem encontradas ainda nos dias de hoje. Temos que apenas explorá-las mais e maximizá-las mais ainda em nossas vidas. Divisão causa divisão. União causa união. Quando nos unirmos, descobriremos que talvez não houvessem segredos, mistérios, mas que o segredo e o mistério maior consistem em descobrirmos que somos iguais, embora diferentes. Somos humanos, embora achemos o contrário, às vezes, e que o segredo disso tudo na verdade é que não tem segredo algum, a não ser o de nos unirmos e nos impormos numa única missão em construir um mundo melhor para mim e para o outro e construirmos um mundo melhor a partir do "juntos".
Amar e respeitar, não impor à quem.